Friday, August 15, 2008

Revelações - Parte 6

- Frida... – Adhara repetiu o nome lentamente, encarando o líquido escuro e intocado dentro de sua xícara.

É claro que seria Frida... Havia dúzias de sinais circundando a polonesa, gritando para serem notados por quem bem entendesse, e Adhara começou a enumerá-los em voz alta, sem encarar o pai:

- O modo como ela estava tão próxima do senhor no enterro de Dumbledore; ela entrando e saindo da nossa casa para ficar de olho em mim enquanto o senhor viajava; a forma como o senhor saiu correndo para ir ao enterro do Sr. Johnson e demorou tanto para voltar para casa naquele dia; este... Fidelius no apartamento dela, com o senhor como fiel de segredo. – nesse momento ela levantou o rosto, prendendo seus olhos ao de Kamus – Pai, há algo bem grande acontecendo aqui, não é? Entre o senhor... E ela.

O Auror anuiu tranqüilamente e serviu-se de mais chá antes de confirmar.

- Sim, há. – ele sorveu um gole da bebida quente – Eu estou tendo um relacionamento com Frida.

A sonserina cerrou os punhos por baixo da mesa, sentindo a despreocupação de Kamus começar a lhe enervar. Como ele poderia estar lhe dando aquele tipo de notícia com o mesmo tipo de interesse com que alguém comenta sobre o tempo? Após tantos anos já estava acostumada com o descaso do pai, entretanto naquela situação, aquilo parecia um tanto demais.

- Desde quando? – questionou a garota.

- Cerca de uns dez meses.

Adhara entreabriu os lábios, visivelmente surpresa e quase recusando-se a acreditar naquilo. Dez meses? Dez meses que aquela situação se arrastava pelas suas costas? Poderia compreender que no começo seu pai talvez não quisesse incomodá-la e nem incomodar a si mesmo, colocando-lhe a par de um caso que poderia não ter assim tanta importância ou durar por muito tempo. Essa havia sido a abordagem de Kamus com todas as outras mulheres que surgiram em sua vida após Anabelle.

Desde que a sonserina conseguia se lembrar, nunca havia existido nenhuma namorada, ou mesmo amiga. Nunca houvera uma mulher freqüentando a casa deles. Então, dez meses era um tempo longo demais para que Frida pudesse ser apenas mais um caso.

- E quando o senhor pretendia me contar? – e ela não pôde evitar que o tom de sua voz soasse um tanto revoltado.

Kamus pousou a xícara na mesa, decidido a cortar a postura rude de Adhara naquele instante. Ele não toleraria uma gota sequer daquele comportamento imaturo. Não havia cometido nenhum ato vergonhoso ou que traísse a confiança da garota para justificar aquele tipo de comportamento por parte da filha.

- Eu planejava lhe contar na páscoa, mas então Ludovic resolveu lhe seqüestrar e você resolveu sumir de casa por três dias depois disso. – ele disse, de forma extremamente autoritária – E então eu planejei lhe contar no início das férias, mas você claramente não estava em condições de lidar com essa notícia.

A garota soltou uma exclamação indignada diante daquilo.

- Depressiva ou não, eu poderia lidar com o fato de que o senhor arranjou uma namorada. – ela retorquiu.

- Ótimo, e você poderia lidar como fato de que eu também arranjei um filho?

Adhara encarou o pai como se nunca tivesse o visto antes. E então a cena de Frida passando mal e vomitando no banheiro há apenas minutos atrás lhe voltou à mente.

A garota fechou os olhos e levou uma mão até a testa.

- Ela está grávida!

Kamus assentiu, ainda que seu gesto não fosse visto.

- Sim, ela está. – e o Auror confirmou a constatação, ainda que Adhara não precisasse disso.

A jovem silenciou, tentando ainda processar o fato de que seu pai, não apenas estava mantendo um relacionamento sério há dez meses, mas também que ela ganharia um irmão, ou irmã, por causa disso. Era uma mudança bastante grande e bastante súbita para alguém que até o dia anterior havia passado a vida inteira como uma filha única, órfã de mãe e criada apenas pelo pai.

Ela suspirou. Poderia passar o restante dos dias se recusando a aceitar tudo aquilo, mas sabia que isso não mudaria ou apagaria nada e aquela história ainda estaria ali, esperando por ela, tão logo resolvesse parar de fechar os olhos e se conformar com a realidade.

Ou poderia se poupar do desgaste e lidar com tudo naquele momento. E Adhara sentiu-se compelida pela última opção.

continua...

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